19/06/2020 – Que desafios e tendências marcarão a profissão de auditor e revisor de contas nos próximos tempos?
O confinamento obrigatório imposto pela Covid-19 interrompeu a maioria das profissões em todo o mundo e a de auditoria não foi exceção. Em meados de março a maioria das auditorias com referência ao exercício findo em 31 de dezembro de 2019 estavam em curso e o primeiro grande desafio foi, e ainda está a ser, a conclusão dos trabalhos de uma forma remota. Os trabalhos de auditoria são normalmente executados nas instalações dos clientes pelo que a continuidade dos mesmos ficou, nesta fase, mais dependente da capacidade de disponibilização de informação por parte do cliente, em formato digital, mais do que necessariamente das condições de acesso aos sistemas das próprias firmas de auditoria, cujos processos já eram efetuados, em grande parte, remotamente.
A profissão de auditor já se encontrava num processo de transformação digital, acompanhando forçosamente a mesma necessidade originada na perspetiva do cliente, o que permitiu aos auditores um avanço significativo, traduzido no acesso aos sistemas, no incremento da comunicação via videoconferência e na focalização dos assuntos relevantes de auditoria.
A crise económica que decorrerá da pandemia, ainda que com efeitos de grande incerteza, terá impactos diretos e indiretos nas entidades auditadas. Em ambientes de crise existem normalmente mais e maiores exigências regulamentares e uma maior pressão por parte dos stakeholders na resposta das auditorias. Estes impactos farão acrescer o risco e a responsabilidade dos auditores, o que se traduz num enorme e imediato desafio para a profissão.
Este contexto vem acelerar o caminho da mudança já há muito tempo anunciada na integração da tecnologia nos processos de auditoria e na implementação de novas ferramentas analíticas de trabalho que permitam análises mais abrangentes (menos dependentes de critérios de amostragem), realizadas em menos tempo, e com um maior enfoque nos contributos da auditoria quer para os clientes quer para os utilizadores dos relatórios de auditoria.
Esta mudança irá determinar um novo perfil de auditores, com mais competências, maior autonomia e com uma forte preocupação na eficácia dos processos, o que permitirá também soluções mais equilibradas na gestão do “work life balance” nomeadamente na flexibilização do trabalho remoto.
A implementação destas soluções obrigam as firmas e os profissionais de auditoria a repensarem os métodos de trabalho, as métricas de produtividade individuais e por equipas, com o pressuposto da manutenção da qualidade das auditorias, da criação de valor junto dos clientes e da defesa do interesse público.
Ver Especial “ Auditoria e Revisão de Contas” JE 2020.06.19